Estórias e Contos Tradicionais Portugueses
Conto: O Lobisomem
(recolha feita no Freixal)
O Ti Joaquim Simões era homem de trato fino, vestia jaqueta e calça de “surrobeco” e fora durante muitos anos responsável pelos trabalhos da quinta do Senhor Correia, uma das maiores da zona do Freixial, e era também um grande contador de histórias:
Esta ninguém ma contou, passou-se nas minhas barbas. Lá na quinta trabalhavam sempre muitos homens e mulheres. Vinham de todos os lugares, mas a maioria deles era Aldeia dos Gagos, de uma pequena povoação ali à volta do Freixal. Homens danados para trabalhar! Às vezes por um copo de vinho a mais ensopavam a roupa do corpo em suor, pareciam charruas a entrar com a enxada por aquela terra fora.
Um dia, depois do sol se pôr, altura em que terminavam o trabalho, o Augusto Carrapinho, um valente homenzarrão, forte e musculoso, disse-me:
-Oh Ti Joaquim, eu hoje não vou à adega, tenho de ir picar o gajo.
-Mas à noite não é altura para picar porcos, nem para encurralar touros.
-Não, não se trata de nada disso! É cá uma outra coisa…
-Vê lá, vê, põe-te mas é a pau, olha que isso não são coisas para brincadeiras.
-Não se incomodem, eu não sou cagarola como vocês.
Eu estava um pouco espantado a ouvir aquele pessoal todo, e até um pouco admirado com a atitude do Carrapinho. Ele era sempre o primeiro a chegar à adega e o último a sair. E ir-se embora no meio daquela conversa toda, começou a fazer-me pieira na garganta:
-Mas o que é que ele vai fazer? Nunca o vi assim tão acelerado.
-Oh Ti Joaquim, é cá uma história que anda para aí!
-História não, é verdade, ele é mesmo Blisomem!
-Blisomem, essa agora!
-É verdade é, Ti Joaquim. Trata-se ali do António das Carapoulas.
-Aquilo é matemático, em faltando aí cinco para a meia noite, lá está ele a sair de casa, a espojar-se ali na encruzilhada e a transformar-se em gato, burro, cavalo, olhe, no último animal que por ali tiver passado.
-Oh Manel, olha que essa é forte, parece-me que faz parte do livro de S. Cipriano!
-Oh Mantoulas, não digas isso pá, olha que até os cabelos do corpo se me estão a arrepiar.
-Eu com essas coisas não quero brincadeiras.
-Não faça caso, Ti Joaquim, esse também tá farto de ver Blisomens!
Cada vez que apanha uma piela, vê-os ás dúzias.
-Vocês são mesmo de partir o caco. Mas o que é que o diabo do Carapinha vai lá fazer?
-Ele diz que é mentira, que isso não existe, e, para provar, vai lá estar à meia noite, esta semana toda.
-Eu avisei-o, disse mais que uma vez para ele não ir. Eu já vi com os meus olhos, aquelo é da gente se arrepiar! Mas isso é lá com ele.
-Amanhã já me vou meter com ele.
-Se ele aparecer, ti Joaquim, se ele aparecer!
Parecia uma paródia, aquela conversa toda. Cada um dizia sua coisa.
De Blisomens eu sempre ouvi falar em toda a minha vida, mas o que ali se passava era diferente, e não deixava de ter a sua graça.
No outro dia, ao nascer do sol, o Carapinha não apareceu. E então aí a conversa ainda foi pior. Havia quem risse, quem desse gargalhadas, quem dissesse que ele tinha desaparecido, que tinha levado um encherto de porrada, eu sei lá, só faltou fazerem o funeral ao pobre homem.
A meio da manhã, já com o sol a cobrir todo o cabeço, lá aparece o Carapinha. Parecia que tinha sido desenterrado! O raça do homem até metia medo.
Todos se metiam com ele, mas não lhe arrancavam nem uma fala.
Triste, com os olhos no chão, largou a saca, despiu o colete, e entrou no seu lugar, na cava, ao lado dos outros.
-Oh homem, diz alguma coisa, ou será que o Blisomem te tirou a fala?
-Lá amarelo, vem ele.
-E arrepiado, também! Olhem para o boné, parece espetado nos cabelos.
Todos largavam a sua laracha. Queriam obriga-lo ma falar fosse a que preço fosse.
Oh Carapinha, vê lá se não te sentes bem, vai-te deitar ali um pedaço, debaixo de um eucalipto.
-Não, Ti Joaquim, isso já passa. É cá uma arrelia.
-Mas que diabo é que te passou pela cabeça, para te ires lá meter com o Blisomem?
Oh Ti Joaquim, por favor não me fale nisso. Pelo amordeus, não me fale nisso. Se soubesse o que se passou!
Oh homem, conta lá, já agora também gostava de saber.
O pessoal parou todo, encostado ao cabo da enxada, olhar para o Carapinha.
-Aí no lugar e arredores, andava tudo cheio que o António das Carapoulas era Blisomem. E ontem eu fui lá para a encruzilhada. E não sei como é que foi aquilo. Era meia noite e picos quando aparece ali um cavalo, ao pé de mim. Não me assustei nada, ele era bonito. Comecei a falar-lhe, tirei a minha cinta e, quando lhe passava com ela pelo pescoço, o raça do cavalo dá cá um esticão. Levou-me a cinta e quase pregava comigo no chão.
Os colegas, contrariamente ao que se havia passado até ali, calaram-se, viram a mágoa com que ele falava, as lágrimas quase a caírem-lhe dos olhos.
Durante muito tempo, não se falou noutra coisa.
Como sempre acontece, havia quem acreditasse e quem desmentisse. Mas, o pobre do Carapinha é que jurou nunca mais se meter noutra, e até quase proibiu de falarem nisso á sua frente.
Na festa da Senhora de Pranto, na maior romaria que se faz aqui nos arredores, o Carapinha foi integrado no Sírio da freguesia de Paio Mendes.
Um espectáculo bonito, muitos carros de mulas enfeitados com flores e carregados de pessoas, muitas pessoas, essencialmente da Irmandade e da banda.
Depois de acabar a missa, ao som da música e da alvorada dos foguetes, Carapinha encaminhava-se para o olival para ir comer o farnel com a família.
Quando descia as escadas de cantaria, deparou com o António das Carapoulas.
Nunca mais tinha olhado para ele mas, naquel dia, sem saber bem porquê, mirou-o debaixo a cima.
E qual é o seu espanto quando reconhece a sua cinta enrolada à cintura do Carapoulas.
Naquela altura não foi capaz de dizer nada.
Desceu a calçada e foi com a família para baixo de uma oliveira, junto ao Zêzere.
O comer enrolava-se na garganta. Não lhe saía aquela da cabeça!
Ainda a meio do farnel, levantou-se e disse à família que já vinha.
Foi ao encontro do António das Carapoulas.
Encontrou-o no adro, junto à torre secular da igreja, a olhar para os barcos enfeitados que faziam procissão pelo rio.
Naquele momento, não havia Blisomem, nem meio Blisomem, era de homem para homem.
Aproximou-se dele, abriu-lhe as bordas do casaco:
-Oh Ti António, onde é que você encontrou esta cinta? Olhe que ela é minha, tem aqui este sinal!
-Onde é que tu a deixastes?
-Não a deixei em lado nenhum. Aqui há tempos atei-a ao pescoço dum cavalo, e ele fugiu-me com ela.
-pois é, sabes o que é isso? É a mania de te meteres com quem não deves. Toma lá a tua cinta e nunca mais te esqueças daquele ditado que diz “quem vai vai, quem está está!”
Ditos, Ditados e Provérbios Portugueses
Circo na lua
Água na rua
Sugestão de Culinária
Miolos
Apesar do nome, esta receita popular é confecionada com várias carnes de porco.
Cortam-se em pedaços os lombetes e os rins de porco, temperam-se com pimenta e vinho e alouram-se em banha de porco; com tudo bem misturado, junta-se um pouco de água ou, de preferência, caldo de carne.
Retira-se o tacho do lume, batem-se alguns ovos com os miolos – conforme a porção de miolos assim o número dos ovos -, misturam-se carne e vai ao lume a ferver; desfaz-se, então, miolo de pão de trigo e um pouco de pão de milho, envolve-se bem no preparado, torna a ferver e faz-se uma merenda num tacho de barro.
Por fim mistura-se um pouco de sumo de limão a cortar a gordura.
Poesia
Ao Rio Zêzere
Eu vi-te um dia, ó Zêzere
Serpenteando p’los montes
Bebendo água p’las fontes
Salpicadinhas de estevas.
Vi-te chorar nas cascatas
Passa-las com timidez;
Vi-te por mais que uma vez
Passar rochedos de gatas.
Vi-te ser canto e encanto
De rouxinóis e donzelas
E deixares em muitas delas
Um riozinho de pranto.
Vi-te pairar de mansinho
P’ra libertares o teu choro
E veres em lindo namora
Carquejas e rosmaninho.
Vi-te ser sonho, desejo
Filhinho de mãe brejeira
Dares o teu nome a Ferreira
E partires até ao Tejo.
Sá Flores
Sugestão de Fim de Semana / O que visitar na minha Cidade?
DIA 30 DE ABRIL (QUINTA)
17h00 Receber a Imagem no Santuário de Fátima
18h00 Ponto de encontro na Capela de S. António (FZZ)
18h30 Passagem pelas capelas de Ferreira do Zêzere (Carvalhais, Portinha, Pombeira)
20h00 Receção e acolhimento da Imagem Peregrina na igreja de Ferreira do Zêzere
20h30 Missa
21h30 Procissão de velas
DIA 1 DE MAIO (SEXTA)
07h30 Igreja Nova chega para buscar Imagem
08h00 Passagem pelas capelas de Igreja Nova (Sobral, Mourolinho, passando
também por Regueiras e Castelaria)
08h30 Receção e acolhimento na igreja de Igreja Nova
09h00 Missa
10h00 Catequese: A mensagem de Fátima para os dias de hoje (P. Alberto Sousa, sj)
11h00 Teatro infantil: A vida de Nossa Senhora
12h30 Águas Belas chega para buscar Imagem
13h00 Passagem pelas capelas de Águas Belas (Varela, Besteiras)
14h00 Receção e acolhimento na igreja de Águas Belas
14h30 Terço
15h30 Catequese: Introdução ao Credo (P. Alberto Sousa, sj)
16h30 Teatro infantil: As Aparições de Fátima
17h30 Paio Mendes chega para buscar Imagem
18h00 Passagem pelas capelas de Paio Mendes (Ereira)
18h30 Receção e acolhimento na igreja de Paio Mendes
19h00 Catequese: Nossa Senhora do sim (P. Alberto Sousa, sj)
20h00 Tempo pessoal de oração
21h00 Procissão de velas
23h00 Regresso à paróquia de Ferreira do Zêzere
DIA 2 DE MAIO (SÁBADO)
07h30 Pias chega para buscar Imagem
08h00 Passagem pelas capelas de Pias (São Marcos, Pias)
08h30 Receção e acolhimento na igreja de Pias
09h00 Missa
10h00 Catequese: Alegria de Maria e como a partilha (P. Alberto Sousa, sj)
11h00 Crianças louvam Maria
11h30 Areias chega para buscar Imagem (junto à Casa Mortuária)
12h00 Passagem pelas capelas de Areias (Freixial, Gontijas, Portela de Vila Verde, Vila Verde, Matos, Milheiros, Avecasta, Pereiro, Telhadas)
14h00 Receção e acolhimento na igreja de Areias
14h30 Terço
15h30 Catequese: Quem és Tu, Jesus Cristo? (P. Alberto Sousa, sj)
16h30 Teatro infantil: Quero ser como tu, Maria
17h30 Chãos chega para buscar Imagem
18h00 Passagem pelas capelas de Chãos (Jamprestes, Cumes, Almogadel, Quebradas, Ovelheiras, Chãos)
19h00 Receção e acolhimento na igreja de Chãos
19h30 Catequese: O nosso compromisso com a Pessoa de Jesus Cristo (P. Alberto Sousa, sj)
21h00 Procissão de velas
22h00 Tempo pessoal de oração
23h00 Regresso à paróquia de Ferreira do Zêzere
DIA 3 DE MAIO (DOMINGO – DIA DA MÃE)
07h30 Bêco chega para buscar Imagem
08h00 Receção e acolhimento no ramal do Carril com procissão a pé até à igreja do Bêco
10h30 Missa
12h00 Saída da igreja do Bêco até ao ramal do Carril
13h00 Passagem pelas capelas de Dornes (Carril, Frazoeira)
14h00 Receção e acolhimento na igreja de Dornes
14h30 Atuação do Coro Juvenil da Fundação Maria Dias Ferreira e do Coro Juvenil de Santa
Cecília (de Aveiro)
16h00 Missa Campal - presidida por D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito da Diocese
de Leiria-Fátima, no Santuário de Nossa Senhora do Pranto
18h30 Despedida e partida para o Sant. de Fátima
20h00 Jantar partilhado
21h15 Entrega solene da Imagem e oração do Terço na Capelinha das Aparições
20h00 Tempo pessoal de oração
21h00 Procissão de velas
23h00 Regresso à paróquia de Ferreira do Zêzere
Foto da Semana
No dia 23 de abril, a nossa Universidade atuou no XVIII Festival de Grupos Musicais Seniores da RUTIS, que decorreu em Tábua.