Estórias e Contos Tradicionais Portugueses
Coisas da Vida
Ela é a minha melhor amiga. Oriunda de uma familia humilde e católica como eu e como a maioria dos habitantes da aldeia. Amiga do peito, amiga do coração, eu diria mesmo amiga do corpo inteiro. Minha confidente, das coisas boas e das menos boas. Dos amores e dos desamores. Enfim, era com se fôssemos uma só. É bonita, mas na sua meninice e na sua juventude era muito mais, com todo o esplendor da sua juventude, a alegria contagiante do seu viver, a sua vontade de brincar e se divertir sem maldade. Era na verdade uma jovem que todas as jovens desejavam ser, pela sua maneira de ser, pela sua simpatia, pela sua alegria contagiante que irradiava para todos quantos a rodeavam. Era bem recebida e admirada por todas as raparigas e desejada por todos os rapazes que não paravam de a cortejar. Passado o tempo, nem tudo correu bem. Namorando um jovem da aldeia por quem se apaixonou, depressa viu o mundo fugir-lhe debaixo dos pés quando ele, estando a cumprir o serviço militar, foi nomeado para a guerra colonial em África. Ansiosa para que o tempo de obrigação militar do seu amado chegasse ao fim, deu conta do desmoronar de todos os projectos e promessas que ambos tinham feito quando deixou de receber noticias, e a informaram que ele se encontrava desaparecido. Ficou para não viver. Sofreu em silêncio, por muito tempo. O momento que tinha livres passava-os junto a um riacho onde era habitual os dois passarem algum tempo do dia. Era aí que ela se recolhia e recordava o passado e , perguntava o porquê de tudo isto. E foi num desses dias do seu recolhimento e das suas recordações que, em certo momento, ouviu uma voz dizendo: “Olá!”
Ela virou-se assustada e…
- Mas, és tu?- perguntou ela.
- Sim, sou eu, minha querida- respondeu ele.
-Mas, não estou a perceber, como foi que...
-Não digas nada, meu amor, abraça-me e beija-me simplesmente- disse ele- teremos todo o tempo para eu te contar toda a história passada comigo.
E assim foi. Amaram-se, casaram e tiveram filhos. Embora mais tarde do que pensaram, encontraram a felicidade que ainda hoje perdura.
Esta é a história muito resumida qua a minha tão querida amiga me contou num dos nossos encontros de desabafos e confidências. Há a juntar à história a razão da tão longa e dolorosa separação para os dois. História que já me tinha sido contada por alguns camaradas de guerra do seu então namorado. Foi raptado e levado para a África do Sul, onde esteve em cativeiro perto de dois anos, donde conseguiu fugir, tendo sido depois encontrado num estado muito debilitado por emigrantes portugueses que o ajudaram em tudo até o encaminharem para Portugal.
Maria de Lourdes da Costa Pereira Morgado
Ditos, Ditados e Provérbios Portugueses
Lucinda Simões
A cavalo dado, não se olha o dente.
O cão ladra e a caravana passa.
Uns comem os figos e a outros rebenta a boca.
O tempo dá, o tempo leva.
De grandes ceias, estão sepulturas cheias.
Ditos relacionados com os meses do ano
Luar de janeiro não tem parceiro!
Em fevereiro chuva, em Agosto uva!
Quando em março arrufa a perdiz, ano feliz!
Não há mês mais irritado do que Abril zangado!
Em maio, nem à porta de casa saio!
Junho floreiro, paraíso verdadeiro!
Água de Julho no rio não faz barulho!
Quem dormir ao sol de Agosto terá desgosto!
Setembro molhado, figo estragado!
Outubro suão, negaças de verão!
Se em novembro ouvires trovoar, o ano que vem será bom!
Dezembro com junho ao desafio, traz janeiro com frio!
In Almanaque Bertrand (2014/2015)
Rosário Sousa
Sugestão de Culinária
Bacalhau à Flor do Nabão
Ingredientes:
600g de batatas
800g de bacalhau
2 cebolas grandes
4 colheres (sopa) de azeite
4 ovos cozidos
2 colheres (sopa) de manteiga
1 colher (sopa) de farinha
5 dl de leite
Meio limão
2 gemas
Sal q.b.
Preparação:
Descasque as batatas, corte-as em rodelas e coza-as em água temperada de sal durante cerca de 20 minutos.
A 10 minutos do termo da cozedura, junte o bacalhau. Depois retire-os da água. Limpe-o das espinhas e desfaça-o em lascas. Reserve.
Corte as cebolas e aloure-as no azeite. De seguida adicione o bacalhau e deixe refogar um pouco. Transfira as batatas para uma travessa e cubra-as com bacalhau e os ovos cozidos, cortados também em rodelas.
Entretanto, prepare o molho. Leve a manteiga ao lume e quando estiver a derreter adicione de uma só vez a farinha. Mexa muito bem e adicione o leite quente não parando de mexer. Tempere com sal, sumo de limão e incorpore as gemas, mexendo sempre. Deixe engrossar um pouco e verta sobre o conteúdo da travessa.
Elisabete Duarte
Poesia
"Linguagem das Cores"
Para o pintor conseguir
Dar vida a uma aguarela,
Ele terá de colorir
Com muitas cores a tela.
A cor verde é esperança,
É vida, é natureza.
O amarelo desesperança.
A branca paz e pureza.
A cor azul é ciúme,
Que nasce com o amor.
A cor preta é queixume,
É sofrimento e dor.
Define amor e candura,
A suave cor de rosa;
A rosa tem formusura,
É uma flor mimosa.
Para definir humildade,
O lilás da violeta,
Porque ela é na verdade
Uma flor bem discreta.
A cor do sangue, o espelho
Do mal que aflige a Terra.
Só pode ser o vermelho,
A cor que define a guerra.
Cor de fogo e vivacidade
De uma vida a despertar;
Alegria e felicidade
Que o Sol tem para nos dar.
Teresa Graça
Sugestão de Fim de Semana / O que visitar na minha Cidade?
FESTA DOS TABULEIROS EM TOMAR DE 05 A 13 DE JULHO DE 2015
PARTE I
PROGRAMA
A Origem
A Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo é uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal. Segundo os investigadores a sua origem encontra-se nas festas de colheitas à deusa Ceres. A sua cristianização pode dever-se à Rainha Santa Isabel que lançou as bases do que seria a Congregação do Espírito Santo, movimento de solidariedade cristã que em muitos lugares do reino absorveu as primitivas festas pagãs. O ponto alto das festividades que juntava ricos e pobres sem qualquer distinção ocorria no Domingo de Pentecostes, dia em que as línguas de fogo desceram sobre os Apóstolos simbolizando a igualdade de todos perante Deus.
Esta Festa de «Ação de Graças» e de oferendas manteve as suas características inalteráveis até ao século XVII. Algumas das alterações que foram surgindo justificam-se no sentido de conferir uma maior grandiosidade a esta Festa. A tradição continua e muitas das suas cerimónias como o Cortejo da chegada dos Bois do Espírito Santo que tem o nome de Cortejo do Mordomo, o Cortejo dos Tabuleiros, a sua bênção, a forma do tabuleiro, os vestidos das raparigas portadoras dos Tabuleiros e a Pêza ou distribuição do pão e da carne mantêm-se (desde há alguns anos a esta parte também se distribui o vinho).
A principal característica da Festa dos Tabuleiros é o Desfile ou Procissão, com um número variável de tabuleiros, em que estão representadas as dezasseis freguesias do concelho. Esta procissão de dignidade, cor, brilho e emoção percorre as principais ruas da cidade, num percurso de cerca de 5 Km, por entre colchas pendentes nas janelas, milhares de visitantes nas ruas e uma chuva de pétalas que de forma entusiástica é lançada sobre o Cortejo.
A Festa é do Tabuleiro que deve ter a altura da rapariga que o leva à cabeça, sendo constituído por trinta pães enfiados em cinco ou seis canas que partem de um cesto de vime ou verga e é rematado ao alto por uma coroa encimada pela Pomba do Espírito Santo ou pela Cruz de Cristo.
A Festa
O início da Festa dos Tabuleiros é marcado pela chamada do povo para uma reunião pública, convocada pelo Presidente da Câmara, para o Salão Nobre dos Paços do Concelho onde se decide se há Festa dos Tabuleiros no ano seguinte e se a opinião do povo for favorável é escolhido o Mordomo. Após a decisão sobre a Festa e se o povo decidir que há Festa são lançados três foguetes a anunciar que há Festa...
Porquê tanto tempo de antecedência?
A Festa dos Tabuleiros engloba vários Cortejos, o trabalho de várias centenas de pessoas que durante mais de seis meses confecionam as flores que vão ornamentar os tabuleiros e decorar as ruas populares a maioria situadas no centro histórico da cidade.
A necessidade de planear, de organizar e de angariar fundos e subsídios leva à necessidade de se começar a trabalhar com muito tempo de antecedência (mudança dos tempos).
Por outro lado a Festa engloba várias cerimónias tradicionais como o Cortejo das Coroas, o Cortejo dos Rapazes, o Cortejo do Mordomo ou a chegada dos Bois do Espírito Santo, a abertura das Ruas Populares Ornamentadas, os Cortejos Parciais, os Jogos Populares, o Grande Cortejo ou Cortejo dos Tabuleiros e a Pêza que necessitam de serem pensadas e organizadas devidamente porque o fundamental é cumprir o que os nossos bisavós e avós também fizeram., ou seja, manter a tradição e principalmente respeitá-la.
Além destas cerimónias tradicionais, durante o período da Festa decorrem vários espetáculos culturais e recreativos que são uma mostra do que de melhor fazem as várias Associações do Concelho.
Após a eleição o Mordomo começa os contactos necessários à constituição da Comissão Central onde se encontram os Mordomos responsáveis pelas várias Comissões sectoriais como por exemplo: Cortejo, Bodo, Mordomo, Rapazes, Ornamentações, Ruas Populares ornamentadas, Logística, Contactos Institucionais, Gestão Financeira, Serviços Jurídicos, Programa Cultural, Angariação de Fundos, Trânsito e Transportes, Feira e Arraial, Publicidade e Marketing, Espetáculos Populares, Secretariado, Relações Públicas, Comunicação e Som e Serviços Técnicos. O Presidente da Câmara, o Prior e o Provedor da Misericórdia são por inerência dos seus cargos membros efetivos da Comissão Central.
In Comissão Central da Festa dos Tabuleiros de 2011
Elisabete Duarte/Rosário Sousa – Universidade Sénior Tomar
Foto da Semana
FESTA DOS TABULEIROS - TOMAR