
Estórias e Contos Tradicionais Portugueses
Conto: O Lagar
Estava-se em dezembro, mês propício para a apanha da azeitona.
Em casa dos avós do Joaquim andava tudo num autêntico reboliço.
Homens e mulheres a serem distribuídos pelos olivais e propriedades onde haviam oliveiras, azeitona por todo o lado e os carros de bois a transportar os sacos cheios para os lagares.
O Abílio Salmão e a mulher salientavam-se no meio do rancho, as suas vozes sobrepunham-se às outras, os seus desafios e desgarradas encantavam, não tinham fim e as suas mãos, quer a ripar, quer a apanhar a azeitona do chão, pareciam aranhiços em movimento.
Pelos seus cinco anos, não davam oportunidade ao Joaquim de fazer mais nada senão andar ao colo ou pela mão da avó, e “embriagar-se” com a maravilha das imagens, que, com a destreza própria, ia captando de tudo que bulia à sua volta. Isto não significa que ele fosse um menino mimado, nada disso, tratava-se apenas de comportamentos do tempo, onde com cinco anos ainda se estava no berço.
É certo que a casa dos seus avós paternos era a maior e mais abastada da zona: possuíam inúmeras propriedades onde abundava, para além do azeite, o vinho e o pinhal e tinham várias juntas e carros de bois, com os quais já haviam feito o transporte colectivo de mercadorias para a Lamarosa e Vila Nova de Ourém, demorando cada viajem cerca de uma semana. Mas, eram pessoas de trabalho, de muito trabalho, sendo o rendimento para investir em terrenos, e só aí.
O Joaquim tinha já cerca de sete anos quando teve oportunidade de ir pela primeira vez a um lagar.
Eram três os que existiam próximo: o do Amâncio Terramote, o do José Vaz e o do Lombo. Trabalhava-se com todos, mas, naquele ano, a azeitona foi em maior quantidade para o do Lombo, que se situava ao fundo dos Outeiros, num local de acessos muito difíceis, onde moravam apenas dois casais.
A casa onde estava instalado era enorme, arredondada e baixa, mesmo muito baixa, quase que se batia com a cabeça nas telhas de canudo que também formavam a trave da porta.
Logo à entrada ficava a casa da lenha, onde funcionava um motor a gasóleo, que através duma forte correia de lona fazia trabalhar as galgas; a seguir a azenha da farinha, cuja mós eram movidas por uma grande roda de ferro, repleta de alcatruzes, que era tocada pela água e se encontrava no exterior; a seguir, e depois de se subir uma escada com três degraus, atingia-se o lagar propriamente dito: a vasa onde as galgas esmagavam a azeitona, as fontes, as duas prensas manuais, a fornalha da água quente a vários homens, entre eles o mestre, um homem alto, magro, que andava em cabelo, e o seu fato estava mais untado que as próprias ceras que expeliam o azeite.
Era ele que orientava tudo ali: estipulava as tarefas dos outros homens, anotava a azeitona entrada, punha a trabalhar e parava o motor, verificava quando a azeitona estava moída, punha a água à temperatura ideal para escaldar as fontes e media o azeite.
Foi no momento em que despejou e deixou o alqueire dentro de um enorme funil, que por sua vez estava introduzido numa vasilha de lata para onde ia determinada quantidade de azeite, que foi premir um interruptor colocado numa parede próxima e iluminou todo o lagar.
Nunca na sua vida o Joaquim tinha visto tal!
Os sistemas de iluminação que ele conhecia eram a candeia, o candeeiro de azeite e de petróleo, o gasómetro e o petromax.
Curioso como foi sempre, e quase impulsionado por uma mola, o Joaquim logo imitar o mestre, tendo imediatamente como consequência uma palmada na mão e o ser obrigado a sentar-se num banco corrido metido entre a avó e o pai.
Claro que a raiva o assaltou, porém, naquele momento, e como se pode perceber, não pôde fazer mais nada.
Mas, a atitude tinha-o marcado muito. E passados uns dias, mais propriamente quando ouviu dizer que o lagar estava fechado, aí estava ele a descer o monte, a aproximar-se do lagar e a procurar a forma de poder penetrar no seu interior.
E foi através de uma janela, que se encontrava semiaberta e se situava perto do solo, que o fez.
E que diferença existia por ali naquele dia!
Estava tudo às escuras, o motor parado, a fornalha apagada, enfim, havia por ali um silêncio de cortar à faca.
Mas o Joaquim estava firme na sua aventura, no que o levara ali.
Queria premir o botão, o tal botãozinho milagroso que iluminava tudo.
E com quanto prazer se aproximou dele e o premiu dezenas de vezes.
Só que naquele dia não havia luz! Quer o dínamo, quer as baterias que a produziam estavam desligados.
Ditos, Ditados e Provérbios Portugueses
Quando a candelária chora
Está o Inverno fora.
Sugestão de Culinária
Peixe do rio em Molho de Escabeche
Arranja-se o peixe, escama-se e retiram-se as vísceras, lava-se muito bem e põe-se de sal.
Numa frigideira larga aquece-se óleo em mistura com azeite; passa-se o peixe por farinha de trigo e frita-se.
No restante molho deitam-se cebola às rodelas, alho migado, folhas de louro, mais uma pintada de sal e picante a gosto.
Deixa-se a cebola alourar, junta-se um pouco de vinagre e ferve mais um pouco.
Deita-se este molho por cima do peixe frio e serve-se quente ou frio, acompanhado com batatas cozidas e salada.
Poesia
ÁRVORE
Quem és tu querida Árvore
Que presa ao chão da terra
Louvas a Deus
Dia a dia sem te cansares?
Quem és tu
Que ao Homem tudo dás?
Quem és tu
Que tomas formas singulares:
às vezes de braços bem abertos
outras, sobes esguia desejando tocar os céus!
Tantos te admiram!
És presença nas cidades, montes, vales e
em sítios inóspitos, onde parece não haver terra, é a chuva o teu alimento divino.
Na Terra, és privilégio de Deus!
Nada pedes! Nada temes!
Tranquilamente mudas a beleza da paisagem.
Ofereces alimento e abrigo.
Diz-me, quem és tu?
Vês nascer o Sol, a Lua acaricia-te,
vigias as estrelas e em passos de dança acompanhas a brisa do mar.
És fonte de Vida!
Oração viva!
Altar - aos olhos de quem tem Fé!
Ana Godinho
Sugestão de Fim de Semana / O que visitar na minha Cidade?
Festival do Lagostim de Rio de regresso a Ferreira do Zêzere
Considerada uma iguaria exótica, em grande parte dos restaurantes do centro da europa e do continente europeu de classe média e alta, comparada ao caviar, considerada como ementa de requinte e de luxo, o lagostim de rio volta a estar em destaque em Ferreira do Zêzere de 27 de março a 26 de abril, prometendo surpreender os turistas e os comensais mais exigentes.
As águas límpidas da Albufeira de Castelo do Bode proporcionam condições únicas para o habitat destes crustáceos de água doce e é em abril que se encontram na melhor fase do ano para serem pescados e confecionados de acordo com os chefes dos 6 restaurantes que são já especialistas na preparação de pratos originais e surpreendentes com esta iguaria, que vão desde entradas, sopas a pratos principais diversos.

Foto da Semana

Alunos e Professores da Universidade Sénior na escadaria do Palácio de S. Bento- Assembleia da República.