Estórias e Contos Tradicionais Portugueses
Lenda “A Moura”
Era ali, na loja do tio Décio, que toda a gente se juntava.
Na parte de baixo os que mais gostavam de beber e falar, em cima, separados por uma enorme e espessa parede, os jogadores de cartas e do burro, e ainda do lado de fora, no pátio, aqueles que gostavam de jogar ao chinquilho.
Vendia-se de tudo ali.
Foi também em casa do tio Décio que existiu a primeira telefonia do lugar; tinha tamanho monstruoso, funcionava por intermédio da bateria de um carro e juntavam-se à volta dela dezenas de pessoas a ouvir, sobretudo a missa e os relatos desportivos.
Na casa do tio Décio acontecia de tudo: cantava-se, narravam-se praticamente todas as passagens do quotidiano e até se davam “lições de história”, cujos intervenientes eram dois irmãos, o Joaquim e o José Pegas, excelentes marceneiros de profissão. A tecnologia do tempo era serra braçal, martelo, formão e a arte, muita arte, que fazia sair das suas mãos medidas, portas, mobílias, tudo em madeira, muito bem trabalhado e aferido. À noite, os dois irmãos iam também beber o seu copo à loja do tio Décio, e que agradável era ouvi-los quando estavam já meio “borrachos”! Sabiam a História de Portugal de ponta a ponta e a troco de um tostão de vinho relatavam-na tal qual como se encontrava nos livros.
Negócios, adivinhas, contractos de homens e mulheres à jorna e outras coisas que mal nos passam pela cabeça, tudo acontecia na casa do tio Décio. Foi lá que tudo começou:
-Já te disse, era lá no poço escuro que uma Moura tomava banho, e ninguém mais lá mete o cu naquela água, sobretudo na parte mais funda, aquele que o fizer sujeita-se a ficar lá, como já aconteceu a alguns. Cá de fora vê-se bem o remoinho que a água faz, aquele que lá cair é engolido, desaparece imediatamente através de um túnel que ninguém sabe onde vai dar nem o que lá por dentro.
-Oh, tio André, você a contar histórias ganha ao Bocage! Há-de dizer-me onde é que fica esse poço escuro que é para eu lá ir abraçar a Moura.
-Tu também o que tens é garganta, mas se lá fosses ficavas sem ela num instante.
-Ah sim! Olhe lá, você quer fazer uma aposta comigo?
-Ah pois quero, nem é tarde nem é cedo, vinte escudos para o que ganhar.
Esta conversa desenrolava-se lá em baixo na adega entre o André da Rosa e o João da Perdida. Entre eles a diferença de idade era grande, o André da Rosa andava pelos sessenta anos, enquanto o João da Perdida não passava dos trinta e cinco.
Tal e qual como a idade, também as vivências eram diferentes. O André da Rosa nunca tinha saído dali, enquanto o João da Perdida já tinha trabalhado pelo país todo e até em Espanha.
-Está arrumado.
Fizeram uma cruz no chão, meteram o dinheiro na mão duma das testemunhas e combinaram ir lá no domingo seguinte.
Era um rancho considerável. E, para encurtar caminho, desceram os Outeiros pelo lado do poente, precisamente pela parte mais íngreme, onde o caminho era aos esses até chegar à várzea.
Quando se atingia o sopé da montanha dava gosto olhar-se em redor para se desfrutar de uma paisagem ímpar, constituída ao cimo pelo azul do céu, ao lado pelo verde dos pinheiros e do mato, pelo amarelo da flor da carqueja e das acácias, e ali aos nossos pés um ribeiro a correr suavemente com a água a espelhar-se nas pedras soltas, parecendo dançar com elas uma valsa de Chopin interpretada pelos esguios canaviais que circundavam todo o leito.
Depois, um pouco mais além, encontra-se uma azenha, depois outra, e logo a seguir, como imponentes sentinelas para manter o respeito e a vigilância por aquela deslumbrante e preciosa aguarela natural, lá estão, frente a frente, os Penedos da Moura e da Bica. Depois, tinha-se o Penedo do Galo, da Batata, as casinhas da velha da Cabrieira, a Cova das Mortinheiras, a casa do Silva, os casarões onde dizem terem vivido pessoas muito ilustres, a serra do Poio, etc., etc..
Todo o caminho era agreste e estreito, parecendo uma serpente ondulante a seguir o ribeiro com idênticas características.
-Alto lá, próximo do poço escuro, mais propriamente na laje. A partir dali não havia nenhum caminho. Tinha de escorregar-se pelo desfiladeiro, vigiado de perto por uma cascata deslumbrante cuja água fazia lembrar roupa a corar ao sol balanceada suavemente pelo vento.
-É aqui.
O poço escuro situava-se mesmo no fim do desfiladeiro, a seguir a uma represa que através de uma levada alimentava uma azenha construída na encosta da serra, a alguns metros de distância.
Tratava-se de um pequeno lago, estreito, meio coberto com salgueiros e estevas, não aparentando à primeira vista nada de tenebroso, a não ser a água muito escura.
-Vês, acolá naquele canto, aquele remoinho, aquela água a mexer? É ali que está o perigo.
-Bem, a aposta está feita, não é verdade?
-O dinheiro encontra-se na mão das testemunhas.
Primeiramente o João da Perdida despiu-se. Depois olhou em seu redor, tirou do pequeno saco de pano uma corda, foi amarrá-la a um pinheiro que se encontrava próximo e depois atou a outra ponta por debaixo dos braços.
-Nem isso te vai salvar, vais ver! Mas fique bem assente, eu não sou responsável por nada. Ouviste? Olha que eu não tenho nenhuma responsabilidade.
O João da Perdida dá uns passos, coloca-se em cima de uma pedra, respirou fundo e atirou-se para a água.
O João era magro, baixo, tinha o peito bastante largo e uma caixa toráxica que mais parecia o fole de um ferreiro.
-Já está, já lá ficou, cá para mim é melhor puxarem a corda – dizia o tio André, ao ver que o João não aparecia à tona da água.
Já ganhei, botem para cá os vinte escudos. Já lhe partiram a corda, vejam que ela já nem mexe.
Mas o João sabia o que estava a fazer, nadava bem, aguentava-se debaixo de água quase como um cágado.
-Ei! Oh tio André que bonita é a Moura! Já lhe dei dois beijos, um abraço e vou-me casar com ela – dizia o João ao mesmo tempo que dava uma gargalhada e nadava por todo o espaço do poço escuro. Sá Flores
Ditos, Ditados e Provérbios Portugueses
Em Junho foice em punho.
Sol de Junho madruga muito.
Junho calmoso, ano formoso.
Junho chuvoso, ano perigoso.
Junho floreio, paraíso verdadeiro.
Junho quente, Junho ardente.
A Chuva de São João, bebe o vinho e come o pão
Sugestão de Culinária
Entrecosto assado no forno
Ingredientes:
1,200 kg de entrecosto
750 g de batatas
3 dentes de alho
1 dl de azeite
1,5 dl de vinho branco
3 colheres (sopa) de massa de pimentão
Sumo de 1 laranja
Sumo de 1 limão
1 folha de louro
Salsa q.b.
Sal e pimenta q.b.
Preparação:
Arranje o entrecosto, corte-o em pedaços em coloque-os numa tigela.
À parte, misture a massa de pimentão, o vinho branco, o sumo de laranja, o sumo de limão, os dentes de alho picados, a folha de louro partida e tempere com sal e pimenta.
Junte esta mistura ao entrecosto, envolva bem e deixe marinar durante 1 hora.
Ligue o forno a 170 graus.
Disponha o entrecosto num tabuleiro de forno com metade da marinada, regue-o com o azeite e leve ao forno durante 15 minutos.
Descasque e lave as batatas, corte-as em quartos, junte-os ao tabuleiro da carne, rectifique de sal e pimenta, envolva e deixe cozinhar aproximadamente 30 minutos, mexendo de vez em quando para que fique com uma assadura uniforme. Se necessário, vá regando com o resto da marinada.
Quando estiver cozinhado, retire do forno e sirva polvilhado com salsa picada a gosto.
Pode acompanhar com salada e gomos de laranja.
Poesia
Erguida nessa Colina
Belo Hino à Natureza
Desce até à campina
Sem deixares de ser princesa.
Caminha feita na geira
Olhar posto no Suão
P´ra teres água na leira
Celeiro nobre de pão.
Sá Flores
Sugestão de Fim de Semana / O que visitar na minha Cidade?
Foto da Semana
As alunas da disciplina de Artes Decorativas participam no workshop de sabonetes