Estórias e Contos Tradicionais Portugueses
Lenda: O Tesouro
A pombeira é o nome dado a uma pequena povoação situada junto ao rio Zêzere, a dois passos da Lendária Capela de S. Pedro e a meia dúzia de quilómetros da Vila de Ferreira do Zêzere.
Tratava-se de uma reduzida zona rural, de escassa população e de difíceis acessos, situação que obrigava os locatários a terem de angariar meios de subsistência pelos arredores, que por sua vez também não eram muito férteis em postos de trabalho.
Vivia-se, portanto, com algumas carências e dificuldades por aqueles sítios.
Mas, talvez devido ao bom peixe que apanhavam no rio, ao excelente mel que por ali se produzia e bom clima existente, as pessoas eram saudáveis, audaciosas e sonhadoras…
Conta-se que um pombeirense cheio de filhos vivia muito preocupado com a difícil situação do seu dia a dia. Pensava, pensava muito, mas não arranjava trabalho nenhum, nem qualquer outro meio que o ajudasse a resolver os seus problemas.
Religioso como era, não faltava a missa que se efectuasse na capelinha do S. Pedro e nunca se deitava sem fazer as suas orações.
Segundo a Lenda, esse senhor uma noite sonhou com um tesouro, com muito dinheiro, muito dinheiro! Ouvindo simultaneamente uma voz que dizia:
“-Vai a Santarém que de lá te vem.”
O sonho repetiu-se por três noites a fio, e tal como manda a sabedoria popular ele não o revelou, pois se assim não procedesse, o sonho não se realizaria.
Sem dizer nada á mulher nem a ninguém, mete-se ao caminho a pé, demorando cerca de três dias e outras tantas noites para chegar a Santarém.
Quando chegou e depois de andar por ali ás voltas, ás voltas, e passados que eram já dois dias, caiu em si e pensou:
-Mas que ando eu para aqui a fazer! Não conheço nada da cidade, e também não tenho nenhum sítio para me dirigir em especial, mas que burro que eu fui em vir para aqui!
E, de certo modo desesperado e desiludido, sentou-se cabisbaixo num banco de jardim situado no extremo daquela cidade.
-O senhor parece estar aborrecido.
Estremeceu, tal não era o seu estado que nem tinha dado pela presença do sujeito que se lhe estava a dirigir.
-É verdade, senhor, a vida não me corre nada bem, ando para aqui… olhe ando para aqui a fazer não sei o quê.
-Então somos dois, eu também ando por aqui farto de pensar onde ficará uma localidade chamada Pombeira e qual será o caminho para lá.
-A Pombeira e o caminho para lá, mas para quê?
-É que uma noite destas sonhei que havia lá um tesouro e eu queria ir lá procurá-lo.
-Mas na Pombeira em que sitio?
E quando o homem lhe revelou o local, o pombeirense aí vai a caminho da sua terra, indo descobrir o tesouro tal qual o outro tinha sonhado, ali, mesmo junto da sua própria casa. E conforme ia arrecadando as moedas de ouro, balbuciava:
-Afinal, foi a Santarém que eu fui bem!
Ditos, Ditados e Provérbios Portugueses
Em casa deste homem
Quem não trabalha não come.
Sugestão de Culinária
Coelho à Padre Sebastião - Receita tradicional
Tempera-se o coelho já limpo e partido aos bocados, com sal, alho, pimenta e bastante vinho branco.
Deixa-se marinar por algum tempo, neste tempero.
Frita-se, de seguida, em banha ou manteiga e um pouco de azeite.
Coze-se muito bem, num tacho, com cebola, acrescentando água sempre que necessário.
Poesia
O quanto te quero
É tanto
Que até no meu leito
Estás presente!
Dali,
Através de um horizonte,
Salpicado de pinheiros e olivais
Parecendo pombas brancas,
Vejo as tuas Catedrais:
As paredes que são livros
As pedras que sabem ler
As lágrimas dos velhos lírios
P´lo teu jardim a correr;
As letras que tangem vida
A fonte onde vais beber
A tua praça florida
Onde eu quero adormecer!
Sá Flores
Sugestão de Fim de Semana / O que visitar na minha Cidade?
A Gruta-Povoado da Avecasta
O sítio arqueológico da Avecasta situado no distrito de Santarém, concelho de Ferreira do Zêzere, freguesia de Areias, junto à povoação que lhe dá o nome, constitui um monumento de interesse único em Portugal.
A vasta gruta abobadada, a dolina associada que lhe dá acesso pelo noroeste, e a envolvente da colina que a íntegra, deram suporte a um importante povoado que remonta ao Neolítico, mas que se prolonga no tempo de uma forma quase contínua até ao fim da Idade Média, no que se poderá considerar uma das mais longas e bem conservadas sequências estratigráficas de “antigas” culturas e habitats em Portugal.
O enorme interesse arqueológico da Avecasta resulta da conservação excepcional das estruturas das várias aldeias sobrepostas, cujos vários horizontes de ocupação (solos, pavimentos, alicerces, muros, lareiras, outras estruturas domésticas, muito espólio utilitário e dejectos) foram sucessivamente selados e preservados por camadas de argila fina.
Estas raras condições, potenciadas por uma Arqueologia contextual e multidisciplinar, poderão permitir uma reconstituição rigorosa do espaço de habitat e do modo de vida doméstico destas antigas populações. Por outro lado, a óptima preservação dos materiais de origem orgânica (ossos, conchas, sementes, carvões, grãos de pólen e outros micro e macrofósseis) viabiliza o estudo da evolução do impacte ecológico destas comunidades na paisagem envolvente e dos seus padrões de exploração e ruralização do território.
Foto da Semana
Alunos e professores numa visita guiada ao Laboratório Chimico, na Universidade de Coimbra.